domingo, 6 de junho de 2010

Centro de Controle de Zoonoses

Durante todo o tempo que estive trabalhando no Centro de Controle de Zoonoses, lugar que idealizei para controlar, através de cirurgias, cães e gatos, para reduzir o elevado número de animais abandonados.


A criação e construção do CCZ foi sugestão minha durante o Fórum de Saúde Municipal, no ano xxxx. O Fórum estava indo para os minutos finais quando perguntei se havia sido sugerida a criação do Centro de Controle.

--Não, respondeu-me Baltazar, um dos delegados do Fórum. Imediatamente arranquei uma página do meu caderno (precisávamos da assinatura de 10 delegados) e sai coletar as assinaturas necessárias.

Pois bem, o CCZ foi criado, construído o local, mas lamentavelmente, as ações essenciais nunca foram implantadas!

Cães abandonados circulam livremente pela cidade e, quando os recolhem é direto para a eutanásia!

Já há um tempo questionei cães circulando pela cidade, com aspecto calazarento, mas a resposta era: “são cães sarnentos e sem dono ou cujo dono deixa solto pelas ruas”...

Ocorre que o aspecto era de cão com Leishmaniose. Os primeiros casos humanos permaneceram em segredo, a população sem informações, ignorava o fato e os riscos. Inclusive os primeiros óbitos pela doença não foram divulgados.

Então o número de casos humanos elevou-se a nível assustador, com vários óbitos. Cães doentes eram vistos em toda cidade!

A informação de parte dos gestores era que o culpado pela doença era os cães e não os mosquitos (Flebótomos) e a falta de controle nesta área.

Quando a população ligava no CCZ reclamando sobre algum (ou alguns) cão doente nas ruas, a ‘carrocinha’ vinha recolher o animal, para eutanásia.

Cada sexta feira eram sempre sacrificados centenas de cães, vítimas inocentes do descaso...

Diariamente ao chegar ao CCZ, eu visitava o canil e encontrava superlotado de cães recolhidos na cidade ou entregues no local pelo dono.

Meu coração ficava entristecido ao olhar os pobres animais, e eles? O olhar de expectativa, de medo do que, pareciam saber, iria acontecer com eles era visível, palpável!

Eu que sempre gostei de cães e gatos, ficava mal ao ver a situação destes... Nunca assisti o sacrifício dos cães, meu coração fica triste frente a, digamos, equívocos cometidos indiscriminadamente, mas, ao ouvir cães gritando sempre fui saber o que estava ocorrendo, pois para a prática da eutanásia o cão deve receber primeiro uma dose de anestesia e depois a injeção letal.

Num destes dias... (esta parte do relato vou publicar no meu blog http://bialopes-beatrizantonietalopes.blogspot.com/) Aguardem...

O dia que conheci Black Zulu: UM AMOR CANINO






Cheguei e fui visitar o canil e lá havia uma cachorrinha preta que me olhou como se pedisse socorro! Conversei com o veterinário e ele me disse que ela estava saudável e não tinha Leishmaniose...

Decidi: vou adotar esta cachorrinha! E tinha que ser logo antes que adquirisse alguma zoonose. Ao meio dia disse ao tratador que iria levar ela comigo.

E lá fomos nós, de moto, estrada afora. Ao chegar a casa ela andou por todos os lugares e, claro, conheceu o Spot, nosso Beagle, e começaram as brincadeiras e o corre-corre alegre dos cães pelo quintal.

E o olhar dela para mim? Olhos de puro amor... Black Zulu, seu pelo preto chegava brilhar, muito linda!

Quando voltava d trabalho lá vinha ela fazer festa para me receber, na maior alegria. No segundo dia observei que ela parecia mais ‘gorda’, pensei: comeu muita ração. No dia seguinte sua barriga estava bastante crescida e levei-a no CCZ, para o veterinário ver. Ela, ao perceber onde estava, ficou choramingando, pensando estar sendo novamente abandonada!

O veterinário retirou mais de 1 litro de líquido e explicou que poderia acumular novamente. O tratador disse: ’isso é barriga d’água’!

Ao meio dia fui até o canil, peguei-a e novamente fomos as duas de moto, para casa, onde dá para imaginar a alegria de Black, que deve ter pensado: “minha dona, minha casa!”

E foram dias de muitas brincadeiras, na hora do banho parecia uma criança! E sempre seu olhar meigo, me seguindo pela casa, por todos os lugares.

No início da outra semana estava repleta de líquido novamente, observei entristecida. Novamente o veterinário retirou bastante líquido, receitou um medicamento e voltamos para casa, mas minha preocupação aumentou.

Black Zulu voltou para as brincadeiras com o Spot, normalmente. E a festa dela, quando saiamos de carro? Olhando tudo atentamente, super curiosa.

Eu observava preocupada, parecia-me estar crescendo sua barriga e quando chegou a noite de sexta-feira ela veio me encontrar e parecia um grande balão preto! Estava enorme!

O que fazer? Ela estava animada, brincando, mas eu pensei que ela fosse explodir, tão imenso estava seu abdome!

Lembrei do Hospital Veterinário e lá fomos nós. O doutor examinou e disse que iria tirar só um pouco do líquido, para não maltratar ela, e Black ficou internada, recebendo medicamentos.

Teve alta e voltou para casa, toda feliz. Continuamos o tratamento, o médico veterinário disse não ser Leishmaniose, como o outro já dissera.

Ela aparentemente estava melhorando até que um dia ficou quietinha, tristonha, não

quis comer nada e foi ficando quietinha e morreu...

Fiquei muito triste. Mas de tudo ficou uma certeza: Tanto eu fiquei feliz em ter adotado ela como ela foi feliz em ter vindo para minha casa...

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